sábado, 22 de agosto de 2009


Vivência


E enquanto eu esperava alguém para ser atendida, ela discretamente sentou próximo a mim, olhei para ela e sorri acolhedoramente, sabia eu, era avó de algum bebê. Ela retribuiu o sorriso e pegou seu livro para ler. Continuei minha espera, mas naquele dia, poucas mães a se acompanhar, mas muitas coisas a tricotar.


Dias depois, um pai veio na salinha onde eu estava e disse, "vem conversar com uma avozinha que ela está muito nervosa". Rapidamente, deixei o que fazia para ir em socorro daquela que precisava de apoio. Para meu espanto, quando me aproximei dela, quem era a avó? Aquela mesma, quieta no seu canto da outra vez. E nossa, estava chorando...estava só, estava desolada e sufocada. Quantas coisas podem cercar uma pessoa, pensei.Vó dedicada, pensando vir para ajudar nos primeiros cuidados de sua netinha, não imaginou que o caminho tomaria outra estrada, de precisar ser internada e passar umas longas semanas na uti neonatal. Quanto sofrimento ela narrava e, ao redor de seus olhos molhados traçados pelas marcas do tempo, via nela uma tristeza contida, lidando com as mudanças e com uma realidade nunca desejada a sua filha e muito menos a sua neta. E contava saudosa de sua família que longe estava, e lhe traziam o conforto, o carinho, a companhia que estava lhe fazendo falta nesse momento.


Quanto mais aguentaria nesse ritmo? O quanto vale a sua vivência, e paciência para aturar os percalços que a vida lhe imprimia e descaso dos outros. Entretanto, percebi que uma coisa a sutentava: a fé de que a neta melhorasse e assim, pudesse retornar ao seu lar.

É...esperar e torcer...fazer por onde as coisas acontecerem porque nada caminha só pela força do pensamento. Sim, ela tinha consciência disso, mas infelizmente, aquela situação de internação hospitalar não havia muita coisa a fazer, os médicos já estavam cuidando.

Então, os dias passaram e outras conversas tivemos, em cada sinal da idade impressa em sua pele, sua história contada a mim,mostrava o quanto ela já sofrera, já vivera e agora, enfrentava a imaturidade e a prematuridade de outros. Ela me narrava então, do quão diferente poderiam ser os destinos "se" tal coisa assim, "se" tal coisa assado...um efeito borboleta...quanta coisa seria diferente! É, imagino a barra que deve ser enfrentar novos modos de viver diferentes do que se está acostumado e aguentar desgostosa calada. Sozinha. Mas, o apego às possibilidades nunca existidas não a ajudariam a atravessar esse caminho. Pensar em coisas boas é melhor, e se a fé ajuda, por que não?

...


A cada fim de escuta, palavras de gratidão e de carinho.


Meu horário de trabalho cumprido e desci as escadas feliz, mais uma missão cumprida. Saí pensando como a gente pode fazer uma diferença na vida de alguém e de como fiz e tenho feito para alguém nesses dias. E o melhor, poder confirmar isso.


Meu desejo, além de que a netinha melhore e ver que a corrente que se seguirá é de que a avozinha volte tranquila para sua terra? Sem dúvida é a de ter certeza que positivamente, essa troca de experiência de ajuda, faz a diferença na vida, não só de quem a pede, mas principalmente, na de quem oferece.

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