terça-feira, 10 de fevereiro de 2009



"Por você faria isso mil vezes!"


Essa é a prova de total devoção, um amor infinito, dita várias vezes por um menino a seu grande amigo, que muitas vezes não soube retribuir-lhe. Ofendeu, debochou, maltratou, ignorou, afastou-se dele, inventando uma grande mentira. E o pior, o amigo devoto, talvez nem desconfiasse do motivo. O motivo nada mais era do que a covardia do amigo que não o salvou, quando precisou. Que por ele, não fez o mesmo...
Aí eu penso, sobre quantas vezes somos covardes para enfrentar nossos próprios amigos, as pessoas que nos são mais preciosas, seja para defender, seja para confrontar.

" - Existe todo tipo de coragem- disse Dumbledore sorrindo. - É preciso muita audácia para enfrentarmos os nossos inimigos, mas igual audácia para defendermos os nossos amigos."

Dependendo da situação, quão delicado é falar sobre o que nos incomodou, ou pedir desculpas por algo feito ou não feito, por admitirmos nossa parte na "tragédia". Às vezes, é uma dificuldade nossa. E o que acontece então?Muitas vezes nos fechamos, nos afastamos, agimos de modo estranho ao "normal" na relação. Podemos até agredir. E além de machucar o outro, negando-lhe uma resposta para tantas mudanças de comportamento, acabamos por carregar o peso de não compartilhar aquele incômodo. Tristeza por não mudar o rumo da história que pode levar anos assombrando-nos...

Entretanto, nós podemos mudar, nós podemos! É preferível deixar a carapaça cair, admitir que não somos perfeitos e falar a verdade que muitas vezes é dolorosa.

"- A verdade- suspirou Dumbledore - é uma coisa bela e terrível, e portanto deve ser tratada com grande cautela."

Se o amigo for maduro o suficiente, saberá lidar com ela e o melhor, saberá perdoar e reconhecer seu erro se esse também for o caso. A recompensa é maior, ter de volta o amigo, além de fortificar a relação.

Nem sempre é fácil falar das situações que nos afetam, até porque não deixa de ser também, falar de sentimentos, e falar de nossos próprios sentimentos pode ser a maior dificuldade, principalmente se não queremos machucar o outro. Isso não é fácil. É uma habilidade pessoal, mas que também pode ser aprendida, aos poucos...E é bom que estejamos preparados para que, ao desabafar a verdade, o resultado talvez não seja como esperamos, prever a reação do outro é incerto, só podemos imaginar pelo que conhecemos dele. É probabilidade acertarmos ou não.

Analisar a situação, pesar a sua delicadeza, a sua seriedade e buscar a tranquilidade pessoal, contando ou não o que nos aflige, é uma escolha nossa. Nem sempre estamos preparados para isso, como é o caso do menino que não defendeu seu amigo devoto. Às vezes, buscar ajuda de um outro, pode ajudar na decisão. O ideal, nesses casos, em que o amor- amigo é sumamente importante, não devemos deixar escapar a chance de enfrentar a situação, de pelo menos tentar, mesmo que não sejamos hábeis o suficiente, porque deixar de molho a nossa falha, ou a falha do outro, achando que cair no esquecimento é a saída pra ter paz, pode ser um grande erro.
"Há um jeito de ser bom de novo"- disse Rahim Khan em O caçador de pipas. Ele acreditou no menino, agora adulto, que ele poderia reparar a omissão e as atitudes idiotas realizadas no final da infância. Quando a gente não acredita, ter alguém que faça a gente acreditar que é possível, certamente ajuda bastante, mesmo quando nos achamos incapazes de mudar o rumo da história, da nossa própria história.


2 comentários:

Flor da Esperança disse...

Em outras palavras, a dificuldade chama-se: falta de assertividade.

Anônimo disse...

Nossa! Que texto primoroso! Digno de Thaci!

Um beijo, boneca!