sábado, 18 de setembro de 2010


Ela olhou-se no espelho tentando dar um jeito naquele cabelo que parecia ter estado num redemoinho. Não viu nada além do que gostaria. "Você é uma boba!", disse com olhos tristes de tanto chorar na noite anterior. Como o cabelo não dava jeito, o rabo-de-cavalo foi a saída pra não se atrasar ainda mais, como acusava os ponteiros do relógio.

Na ida para a aula evitava ter os incômodos pensamentos que lhe atormentavam. Estava sufocada, essa era a verdade, precisava compartilhar suas angústias. Pensou nas suas amigas, como estavam longe...queria tanto revê-las e receber o abraço grupal, ouvir Lia soltar aquelas piadinhas, deliciar-se com a gargalhada contagiante de Elza, receber o olhar compreensivo de Elen... Quanta falta sentia de suas amigas que já tinham tomado rumo nas suas vidas. E ela, parecia que ainda estava buscando o seu.

Ainda não tinha se desarmado naquela nova sala de aula, estava ainda por detrás do muro que lhe distanciavam das outras pessoas. Ao mesmo tempo que pensava ser suportável a pseudo-convivência, às vezes sentia-se incomodada pela invisibilidade que passava. Ou, para outros, quem sabe, superioridade. Mas, independente da imagem que projetava, o quadro era o mesmo, solidão.

Pensava nos tempos de colégio, quer dizer, de fechamento de ciclo, despedidas, vitórias de uns e tristezas para outros. "Com amigos é mais branda a luta, a falange hoplítica te leva junto, mesmo quando não queremos", refletia enquanto ocorria a troca de professores e as cabeças se viravam umas para outras para fazer comentários de que a próxima aula era chata, ou que já estava com fome, ou pra tirar um dúvida do último exercício de geometria espacial, ou, simplesmente, para sorrir para o amigo e compartilhar do cansaço que a corrida por uma vaga na universidade exigia.

Ela, naquele momento, não carecia de tanta interação, um sorriso que fosse seria capaz de lhe dar forças para continuar. Mas não havia remetentes. Voltou-se, então, para a página marcada com a régua, o jeito era voltar para Vidas Secas. Procurou o último parágrafo que havia lido e deu continuidade à leitura: "Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem."

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