
Eu queria ter palavras bonitas, sonoras, rimas. Com as palavras nos expressamos, nos fazemos entender, embora também plantemos dúvidas e exigimos respostas.
Hoje, não as tenho. Hoje, o que fala por mim, não é a minha boca, o som de palavras. É meu corpo. Doído e curvado. É meu olhar. Vago. Triste. Caído. Com um brilho escuro, ou talvez...sem brilho. Perdido no tempo e no espaço. É minha boca com sorrisos ausentes ou meio-sorrisos. É minha mão que entre os dedos de unhas sem cor, ainda carrega aquele anel.
Ah...aquele anel...Era um segredo guardado em nossos corações. O desejo de ficarmos juntos era real. Assim como o pedido. Por entre tantos formalismos, falta de tempo e...receios. Só nós dois sabíamos o que queríamos e como queríamos.
Aproximações sucessivas. Brincadeiras provocativas. Intenção. Afeto. Verdades declaradas. Medos externalizados. Interesses comuns. Carinhos. Sonhos. Declarações. O futuro prometia, enquanto o presente acontecia. Devagar e intenso.
Hoje, sem palavras. Fatalidade real. Não foi um pesadelo. Não foi só uma sensação estranha sentida durante aquela semana fria e atribulada. Ele se fora, sem querer ir. Foi forçado a ir, com dor no peito banhado em sangue. Seu último ato? Coragem. Sua última força? Correr. Sua última segurança? Os braços da mãe. A chuva fina de dezembro, ao final da tarde, o limpava. Então, barulho, choro, esforços para salvá-lo. Ele estava indo...
Anoiteceu. Noite fria depois de uma tarde escura de chuva forte. A casa estava em silêncio e o telefone tocou duas vezes até ser atendido. Do outro lado, a notícia arrasadora. Meu mundo parou.
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