
Estava acostumada a acompanhar progressos e recaídas daqueles pequenos seres e paralelamente dos anseios e expectativas de suas mães. A maior parte sempre tinha final feliz, ou melhor, uma partida feliz, para a casa. Só sorrisos e se vinha lágrimas, era pela notícia boa e pelo adeus de felicidades. Naquela manhã, as primeiras horas foram tranquilias, uma mãe nova e algumas perguntas, mas antes que esperasse, o Dr. aparecera na salinha e disse: "dá licença, vou conversar com os pais, mas pega uma cadeira e me acompanha." Claro, a história já tinha lhe dito que era assunto delicado. E, para sua inexperiência, era um delicado pesar. Como algo delicado pode ser tão pesado? Tão doloroso, tão...irreversível...?!
Um bebê se fora e os pais ficaram. Ficaram desolados, ficaram estupefatos, ficaram desesperançados, desesperados. Choros, gritos, não aceitação. Era terrível demais perder um filho, perder uma criança, perder um bebê! A cena persistiu durante toda aquela manhã. Corre-corre, pessoas desconhecidas, ausência da preceptora e as tentativas de amparo da desolação, do incoformismo ora vinha da familia, ora vinha da assistente, ora da técnica, e no meio de toda aquela situação, a aprendiz, tentando fazer o melhor. Mas inexplicavelmente, só ficou na intenção...palavras lhe faltaram, a assistência foi mais com gestos do que com palavras. Os que vinham ajudar falavam de Deus, de suas experiências, faziam comparações, empatizavam com a dor daqueles pais, e a aprendiz, paralizada. Anestesiada. Não podia intervir com argumentos divinos, não podia intervir com experiências parecidas (nem sequer passou por alguma), e o que podia fazer era acolher e permitir o choro. Mas o choro, não era um lamento. Era desespero, era grito, era revolta.
As horas transcorreram agitadas até, pelo final da manhã, a aceitação e uma calma aparente dos pais. Um suspiro, mas a tensão permanecia. A aprendiz saiu daquele ambiente que traz e recupera a vida e enfrenta a morte, com um nó na garganta, depois de tanto ver lágrimas rolarem, vozes embargadas, desconsolo...Se recebesse um abraço cairia no choro, tinha certeza disso. Mas quando isso aconteceu, os abraços, aguentou, ainda não era o momento, nem o lugar. Mais umas horas depois, em companhia da amiga que já presenciara certa vez um nó na garganta, narrou em detalhes o acontecido e aí desabou, chorou, soluçou, como se carregasse toda a dor dos pais e mais as suas, as suas angústias sobre seus questionamentos quanto a sua atuação, sua falta de experiência, seu autocontrole de não querer errar... E ainda mais, ouvindo as palavras caridosas...ela era o choro, ela era a acolhida, ela era a fragilidade, ela era..ela mesma.
Mais abraços recebidos, e dessa vez sem palavras em demasia, sem narrações, apenas carinho, atenção, compreensão.
Não nega, que a sensação de pesar ficou no ar até a próxima conversa e análise, sem mais cobranças apenas a mensagem: "então, gatinha, você fez o seu papel, sim."