Uma ligação inesperada. Um convite inesperado.
O curioso é que pensei em você naquela noite, ao encontrar um amigo nosso em comum. Foi rapidamente, eu confesso. E quando chego em casa, aquele aviso, um telefonema seu. "Nossa", exclamei,"o que será?"
Liguei então para sua casa, já estava dormindo. Ok. Para variar fui ver meus contatos virtuais e o que vejo: um singelo elogio, um reconhecimento, uma sugestão e um pedido discreto, quase um lamento: Escreva-me algo.
E eu me pergunto, o que te moveu à me fazer esse pedido? Apenas por gostar do que escrevo, por se identificar? Hum. Sim, diria ser essa uma resposta inicial, e olhando teu espaço, lendo aquela letra de música, penso no turbilhão de motivos omitidos nesse teu pedido, como ouvia em uma saudosa disciplina "o que há por detrás do discurso?"...
É, privilégio meu receber mais esse espaço, e honra minha conhecer-te e saber um pouco do que te moveu. É claro, foi um pedido vago. Escrever sobre o que? Paro, penso, olho.Então, a nossa convivência no aqui e agora do meu pensamento me trouxe o seguinte.
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Em tempos de crise, há quem se feche, há quem se abra, há quem só pense, e há quem se movimente. A vida é feita de processos. Processos indicadores de mudanças (ou o contrário? mudanças indicadoras de novos processos?). Mudanças exigem preparação. Nem sempre temos tempo para nos preparar a con/viver em e com um novo, com a novidade. O que nos resta é nos adaptar e, dependendo do que seja, as mudanças podem nos trazer benefícios, bem-estar e também o oposto. E quando a mudança não depende de nós, o processo é bem mais dificil de se aceitar. Tanto coisas "boas" quanto "ruins" que nos acontecem é fonte geradora de estresse. É, é isso mesmo, por exemplo, um nascimento de uma criança, é em sua maioria das vezes um evento de muita alegria e expectativa, e sem dúvida há níveis de estresse, do "bom estresse", enquanto há outros eventos, como a morte de um ente querido que nos trazem muitas outras coisas que temos que lidar, e prolongada essa situação desagradável, um "mau estresse" se estabiliza. Mas, sim, e aí? A longo prazo, áreas da vida são afetadas em algum nível, e, principalmente, afeta a saúde de quem vive nessa situação desfavorável.

Existem aqueles que são resilientes, que apesar das dificuldades, de todo um cenário de "tudo contra à minha vida", conseguem ter jogo de cintura, obviamente, com algumas habilidades de se ajustar criativamente à situação. E existem aqueles, que infelizmente, são desprovidos de elementos que o ajudariam a resistir e a lutar para reverter a situação, e assim, acabam sendo "levados" pela situação. Sem perspectiva.
Sem dúvida dentre muitos fatores de proteção existentes que proporcionam uma resiliência, claro, porque as situações variam, destaco o chamado apoio social. Este, é muito importante, e tem uma participação enorme no processo de busca de mudanças e no processo de adaptação das e nas mudanças. Mudanças exigem ganhos e perdas, junto com as escolhas requeridas. Como saber qual o melhor caminho? Analisando bem, e tendo a clareza do que se vai lucrar e do que se vai perder, e sem esquecer nesse processo todo, os sentimentos, a si mesmo. É, porque muitas vezes, agimos mais em prol do bem-estar do outro, fazendo sacrifícios nessas mudanças e não atentamos que também temos o direito de obter bem-estar não só pelo sucesso do outro, mas também, pelo nosso próprio. Como me sinto frente a isso? Como gostaria que fosse? O que posso fazer?

Ultimamente, uma pergunta e ou afirmação que em algumas situações me apareceram e mesmo sendo tão discretas, me proporcionaram aquela tomada de consciência, de parar e ver que pode ser diferente, que não tem que ser como penso: "E precisa?" É, muitas vezes agimos em função de regras aprendidas ao longo da vida que acabam nos direcionando para um caminho que não nos permite a vivência de outros momentos de aprendizagem. Então, preciso mesmo fazer ou ouvir aquilo? Preciso causar a impressão tal? Preciso? Preciso?Preciso?!

O que com certeza é preciso, é olhar sim, para si, não de uma forma egoísta, mas de uma forma que te permita viver bem com você mesmo, um olhar se percebendo como alguém que sente, que tem necessidades, sonhos e desejos e que TEM O DIREITO e o DEVER de fazer por si. Viver em função da felicidade alheia, da realização alheia, mas pela pressão simples e pura de agradar alguém (como fazer um curso por causa de pai ou mãe) interferindo nas suas escolhas que lhe seriam mais agradáveis, não é saudável. Não. Nada de papéis escritos pelos outros e vividos por você. Escreva seu papel, claro, é impossível ser imune a quem te rodeia, construa então com eles, o melhor papel, aquele que você possa se expressar fielmente a suas convicções e com a opção de ser livre para atuar da maneira que lhe faz mais feliz.
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É claro, diante do teu pedido, faço uma salada de conhecimentos psicológicos, que só quem é da área percebe. Entretanto, meu objetivo não é defender um único repertório de vocabulários, ou de teorias, mas oferecer uma possível brecha para as reflexões que há algum tempinho (ou seria um tempão?), espaçadamente construímos.

Então, eu tiro meu chapéu, pela resiliência que sempre demonstraste. E penso, por fora, essa força toda, que mesmo com os problemas, ainda há tempo para solidarizar-se com teu próximo. É muito belo isso, mas a fragilidade um dia aparece, e neste momento, suas habilidades e seu apoio social e todas as estratégias de enfrentamento que busca, resulta, na vivência desse processo que se chama vida. De uma vida com qualidade. Na tua vida. Na tua felicidade.
E podes contar com meu apoio sempre. De sempre. Sempre.